terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Por favor, me ame!

Na Grã-Bretanha, uma cadela carente (essa da foto) tem aulas para aprender a ser amada. Em país de primeiro mundo é assim, cachorro é um “ser humano” como outro qualquer e merece ser amado. A história é absolutamente verídica: uma cadela abandonada chamada Princess (Princesa, no português), de apenas 6 meses, está sendo adestrada para receber amor. O animal é tão arredio e assustado que os funcionários de um centro de resgate em Lancashire têm dificuldades para se aproximar dele. “Princess é a cadela mais triste que já conheci”, afirmou Neil Martin, um dos membros do centro, ao jornal Daily Mail. “Quando ela chegou, logo percebemos que ela nunca havia recebido amor. Nós tentamos animá-la com alguns brinquedos, mas ela tinha medo”, completou o dedicado e comovido tratador de animais.

Embora horripilante, Princess tem essa carinha de “por favor, eu preciso de amor” que vemos aí na foto. Ela sofre de uma doença que a deixa sem pelos e torna sua pele tão delicada que a impede de permanecer muito tempo ao ar livre, exposta ao frio e ao calor intensos. Além de artimanhas de psicologia animal, os tratadores estão utilizando no tratamento de Princesa uma série de medicamentos, incluindo uma droga que custa cerca de R$ 30,00 por dia. “O tratamento será custoso, mas não iremos parar. Nós queremos resolver o problema e dar a ela uma nova vida”, afirma Martin.

Quando li na net sobre a história da cadelinha inglesa carente de amor, pensei na realidade maciça de crianças pobres, em completo estado de miséria e abandono, de nosso emergente Brasil varonil. O contraste é absurdo. Enquanto na Grã-Bretanha um centro não mede esforços, nem grana, para fazer uma cadela carente sentir-se amada, no Brasil, uma multidão de crianças de rua passam despercebidas diante de nossos olhos – exceto, claro, em datas como o Natal, quando o inconsciente coletivo nos move a ser mais solidários e “amorosos” com nossos “irmãos”.

Quem sabe poderíamos fazer um estágio de como se tratar um ser carente com a equipe de tratadores de animais do tal centro de resgate em Lancashire, na Grã-Bretanha. Quem sabe conseguiríamos aprender a ser cativados pelo olhar “pidão” de uma criança que não teve a chance de aprender o que é ser amada. Quem sabe não mediríamos esforços para ensiná-la a receber carinho, sem parecer que desejamos alguma coisa em troca. Quem sabe investiríamos um pouco de nossos recursos – muitos deles gastos com supérfluos – para comprar medicamentos necessários para seu tratamento de ressocialização. Quem sabe até conseguiríamos tratar essas pessoas sem perspectivas de vida tão bem como os ingleses tratam seus cachorros de rua.

Mas, ainda bem que estamos no Brasil, não é verdade? Assim podemos deixar tudo como está. E tocar a vida como se a realidade não fosse com a gente.