Tempos atrás, ser crente - melhor dizendo, protestante -, era coisa de gente esquisita, religiosa ao extremo, ou, na melhor hipótese, um tipo qualquer de carola, todavia, na maioria dos casos, pessoa séria e, quase sempre, confiável. Hoje, ser crente - melhor dizendo, evangélico, pior dizendo, gospel -, é para, os ímpios, sinônimo de toda sorte de adjetivo pejorativo, do irônico ao agressivo. E a culpa é de quem? Nossa, é claro.
Não pretendo aqui condenar gente sem noção, do tipo que curte se divertir à custa da fé dos outros e que, geralmente, fala sem conhecimento de causa, que nunca leu a Bíblia (se leu, não entendeu bulhufas) e apenas acha intelectualmente impressionável tirar onda dos cristãos. O propósito aqui, para variar, é centrar fogo no comportamento de nós, evangélicos, cuja vergonha na cara tem se tornado artigo em escassez.
Por exemplo: às vezes acho perda de tempo esse negócio de crente famoso ir a programa de televisão secular, sob a justificativa (ingênua, a meu ver) de evangelizar os descrentes. “A palavra nunca volta vazia”, costuma-se dizer, como que procurando desculpar-se pelo fato de estar sentado à roda de escarnecedores. Resultado: salvo honrosas exceções, o irmão famoso acaba alvo de chacota na boca dos ímpios.
Um caso recente foi o da cantora Sara Sheeva, entrevistada no programa Manhã Maior, da Rede TV. A pastora e ex-cantora do grupo SNZ revelou que sua conversão se deu após uma experiência sobrenatural: “Eu vi o mal. Eu vi dentro de uma pessoa" - afirmou. "Uma pessoa incorporou um espírito no meio da rua, na minha frente, e os meus olhos se abriram, espiritualmente falando", completou. Ela disse ainda estar sem sexo há 10 anos e sem beijar na boca há nove.
A turma do facebook deitou e rolou. O depoimento da pastora foi motivo de piada. E sobrou para todos os evangélicos. Fomos chamados de falsos puritanos, julgadores da vida alheia e claro, desequilibrados que precisam de ajuda psiquiátrica. Pergunto: será mesmo que o Reino de Deus precisa desse tipo de participação televisiva? O programa, claro, ganha em audiência. Mas, e a Palavra, foi mesmo pregada? Os descrentes foram mesmo impactados pelo testemunho de mudança? Ou a coisa toda serviu apenas para colocar o Evangelho como alvo de zombaria?
Nem se precisa dizer que há lugar, hora e maneira de se dizer as coisas, a fim de se atingir o objetivo desejado. Falar de coisas espirituais para ouvintes leigos no assunto, ateus, agnósticos ou simplesmente vazios do Espírito, ou mesmo arrogantes intelectualóides, é quase sempre chover no molhado.
Por outro lado, dia desses assisti a uma entrevista de Victor Belfor e Joana Prado ao apresentador Luciano Huck e gostei da postura dos dois. Sem apelar ao evangeliquês, disseram que a conversão foi a melhor coisa que aconteceu na vida deles e que a mudança se tornou evidente. O próprio Huck admitiu: “Mudou para melhor”, referindo-se à Joana, que ficou famosa como a Feiticeira em programa apresentado por ele. É assim que se faz. E quem quiser conhecer o Jesus que os transformou que venha. Ele está sempre de braços abertos.
A verdade é que são as atitudes e o caráter que mostram se uma pessoa é cristã ou não. Ir à igreja, pregar, cantar louvores ou dar entrevistas na televisão, gravar CD... nada disso faz de alguém um verdadeiro discípulo de Jesus. Aliás, ator é o que não falta no meio evangélico. Tem gente que consegue até separar bem as coisas: “Na igreja sou cristão, fora dela faço o jogo do mundo”. Coitado de quem pensa assim. Cristo nos ensina a ser discípulos onde quer que estejamos. É justamente fora da igreja onde eu mais preciso dar testemunho de quem eu sou Nele.
Não precisamos agir como juízes do mundo, nem tentar parecer puritanos ou, muitas vezes, hipócritas diante do pecado alheio, para mostrar que somos evangélicos. Temos que ser verdadeiros, com nossos erros e acertos, arrependendo-nos diante do pecado, perdoado e estendendo a mão a quem precisa se levantar. Pregar o Evangelho é tarefa de todos, aproveitando cada oportunidade. Até mesmo, com a devida prudência, em programas de televisão. Mas, um pouco de cabimento não faz mal a ninguém. Lembram da Baby do Brasil mostrando ao Jô Soares como se fala em línguas estranhas? Ninguém merece! O Jô (que de modéstia intelectual não tem nada) tirou sarro do início ao fim da entrevista.
É bom que fique claro: não me importo com os comentários vazios e escarnecedores dos descrentes. O que me incomoda é a nossa falta de noção quando esquecemos de buscar em Cristo a forma mais inteligente de pregar o Evangelho. O que, aliás, às vezes nem precisa de palavras.