Recordo-me bem do dia em que, quando adolescente, cumpri a formalidade de ir à frente, na igreja, e lá repeti a oração pronunciada pelo pastor, por meio da qual “aceitei a Jesus como Senhor e Salvador e me arrependi de meus pecados (até parece)”. A partir dali - tal acontece com a grande maioria das pessoas que desempenham o mesmo ato, como se ele bastasse -, toquei a vida como se nada houvesse acontecido. Aliviava-me ter agradado à minha mãe, que tanto insistia para que eu fosse à frente e cumprisse o que recomenda a Bíblia em Mateus 10:32 e Romanos 10:10.
Mal sabia que Deus tinha planos imagináveis a meu respeito. Anos mais tarde, agora não mais diante de uma congregação, mas de joelhos na presença do saudoso pastor William Hoyer, eu verdadeiramente entreguei minha vida a Cristo. A partir dali, tudo se fez novo. As coisas velhas passaram, acirrou-se a luta da carne contra o espírito e uma convicção começou a crescer em mim: a de que a vida é infinitamente mais bela quando reconhecemos nossa dependência de Deus.
Movido por esse sentimento - que nada tem a ver com levar uma vida de facilidades – passei, tempos depois, a incomodar-me com o fato de ver muitas pessoas retrocederem da decisão de caminhar com Cristo. No “envangeliquês”, refiro-me àqueles que se “desviam” da igreja (corpo). Não conseguia - ainda não consigo - compreender como alguém que já houvesse desfrutado da maravilhosa presença do Senhor pudesse voltar a "viver" dos manjares do mundo. Será que essas pessoas, na real, nunca receberam a Jesus como Senhor? Será que esses “ex-crentes” nunca haviam tido uma experiência verdadeira com Ele? – indagava-me.
Esses questionamentos voltaram a fervilhar em minha mente depois de uma providencial conversa que tive, durante um congresso secular que participei, semana passada, em Florianópolis/SC. Como não creio em acaso, sei que, de alguma forma, naquele lugar, naquela hora, naquele corredor de hotel, as circunstâncias conspiraram para que eu viesse a conhecer um dos congressistas - um homem boa-praça, sorriso cativante e um simpático sotaque sergipano. Fui apresentado a ele primeiro como jornalista, depois como pastor. Mas foi a segunda função que despertou nele o interesse em estender um pouco mais a nossa conversa. Em meio a diversas citações bíblicas, meu novo amigo confessou-me que já havia sido um missionário, “um soldado de frente na batalha” – citando suas palavras.
Conectado no Espírito, ouvia suas colocações atentamente, enquanto esperava algo de Deus que eu pudesse dizer a ele. Perguntei-lhe:
– O que aconteceu com você? – curioso sobre seu afastamento do ministério.
Disse-me que, em um dado momento de sua vida, havia perdido tudo. Percebi que o dia mau havia chegado para ele de forma fulminante.
Indaguei-lhe: – Perdeu tudo o que, exatamente?
– Tudo – resumiu.
– E por acaso você não sabe que Deus costuma provar os seus é na fornalha? – provoquei-o. Seus olhos lacrimejaram. Percebi serem lágrimas de saudade. Senti aquele homem movido por uma profunda saudade de Jesus.
– O que aconteceu com você? – curioso sobre seu afastamento do ministério.
Disse-me que, em um dado momento de sua vida, havia perdido tudo. Percebi que o dia mau havia chegado para ele de forma fulminante.
Indaguei-lhe: – Perdeu tudo o que, exatamente?
– Tudo – resumiu.
– E por acaso você não sabe que Deus costuma provar os seus é na fornalha? – provoquei-o. Seus olhos lacrimejaram. Percebi serem lágrimas de saudade. Senti aquele homem movido por uma profunda saudade de Jesus.
Lembrei-lhe de que nada acontece por acaso e que Deus estava no mesmo lugar de sempre, somos nós que escolhemos nos afastar Dele. Ele acenou com a cabeça afirmativamente. Nos despedimos. Mas, o Senhor ainda iria providenciar mais um encontro entre nós, dessa vez na solenidade de encerramento do congresso. Um encontro de poucas palavras. Num abraço apertado, ele me disse:
– Tem horas que não se precisa dizer nada.
Retribui-lhe o carinho e disse-lhe apenas que “o que era para ser dito já havia sido”.
– Tem horas que não se precisa dizer nada.
Retribui-lhe o carinho e disse-lhe apenas que “o que era para ser dito já havia sido”.
Tudo isso me fez lembrar de algo que li no livro “Em Defesa da Fé”, de Lee Strobel, acerca de um episódio que ele viveu diante de um homem chamado Charles Templeton, que se define como “ateu convicto”. Templeton havia sido um grande evangelista no passado, companheiro de cruzada de Billy Graham. Após ouvir de Templeton as diversas razões pelas quais ele havia decidido negar a Deus em nome do ateísmo, Strobel perguntou-lhe:
– E Jesus? O que Jesus representa para o senhor?
Ouvir o nome de Cristo foi demais para o já ancião e ex-pregador do Evangelho. Sem conseguir controlar as lágrimas, ele respondeu:
– Eu sinto a falta Dele.
– E Jesus? O que Jesus representa para o senhor?
Ouvir o nome de Cristo foi demais para o já ancião e ex-pregador do Evangelho. Sem conseguir controlar as lágrimas, ele respondeu:
– Eu sinto a falta Dele.
Por essas e outras, acho que nunca vou entender o porquê de as pessoas trocarem o aconchegante calor de Cristo – seja na fornalha, no deserto ou nos altos montes –, para viver a triste saudade do bem maior que alguém pode ter: a presença de Jesus, Emanuel, o Deus conosco.