Aproxima-se o dia das Eleições e só de uma coisa tenho certeza: mais uma vez a vitória será da democracia. Louvo a Deus por vivermos num país democrático, no qual professamos nossas crenças religiosas livremente, não precisamos morrer ou ser presos por possuir e pregar a Bíblia e, claro, podemos escolher nossos governantes por meio do voto. Não quero entrar aqui no mérito do lado sujo dessa história – inclua-se aí a venda e compra de votos, o voto de cabresto, o coronelismo ainda vigente em algumas regiões do país e outras mazelas da nossa política –, mas quero comentar algo que tem me chateado de ouvir, vindo de candidatos ditos evangélicos. Trata-se da frase abusivamente usada “Minha candidatura nasceu do coração de Deus”.
Por mais que eu queira ser simpático à candidatura dos irmãos que corajosamente dão a cara à tapa em busca de um lugar ao Sol no disputadíssimo metiê público, torço o nariz quando ouço a referida máxima. De duas uma: ou grande parte das campanhas de evangélicos “nasceu do coração de Deus” (mas fica difícil crer, a julgar por uns e outros caras-de-pau que estampam cartazes por aí), ou tem gente usando cinicamente o nome do Senhor em vão.
Talvez um irritado leitor possa indagar-me: “E quem é você para dizer que essa ou aquela candidatura não nasceu do coração de Deus?” Mansamente eu responderia: “Meu amado(a), porque eu tenho cérebro e tento fazer bom uso dele”. Gente, não estou dizendo que não haja entre os candidatos cristãos (incluindo-se alguns pastores) aqueles que estejam seguindo uma autêntica direção do Senhor. O que eu não consigo engolir é esse evangeliquês desmedido, essa postura apelativa para engabelar os crentes. Por que não dizer simplesmente: “Sou candidato porque tenho tais e tais propostas; Porque vou me posicionar contra o aborto, contra o casamento homossexual (aliás, muitos preferem silenciar-se sobre esses temas, para não ferir possíveis eleitores da oposição); ou “Porque me sinto preparado para a vida pública, com honestidade, moral e competência comprovados...” Enfim, por que essa história de dizer que a candidatura “nasceu do coração de Deus”?
Ok, consideremos então que determinada candidatura foi mesmo uma revelação do Senhor, o que justificaria, claro, o uso da frase. A pergunta que faço é: Será que, além da revelação, Deus autorizou o suposto escolhido a usá-Lo como cabo eleitoral ou, em maior escala, padrinho de campanha. Ora, se é Deus que está avalizando, quem sou eu, insignificante cristão, para não votar no camarada?
Amados(as), na hora de votar, escolha consciente. Avalie, analise propostas, não se deixe levar por influências e, principalmente, movido pelo inconsciente coletivo. Vote em alguém que você confie, que você acredita, que possa representar bem os seus ideais. Valores cristãos e temor a Deus são, sem dúvida, são bons requisitos, mas não bastam. Precisa ter vocação para a vida pública, ter preparo para desempenhar esse papel e, sobretudo, ser sincero.
O que lasca é saber que palanques e igrejas estão cheios de ótimos atores. Mas, como diz a Palavra: “...nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido (Lucas 12:2)”.