terça-feira, 30 de março de 2010

Gosto não se discute

Algumas discussões parecem não ter fim. Futebol, religião, política, por exemplo, são temas que, dificilmente, geram consenso. Entre os evangélicos, desde que me entendo como tal, um dos assuntos que mais dividem opiniões é a velha dúvida do “posso ou não posso ouvir música secular”. Sobre o assunto faço aqui algumas considerações:

Analiso a polêmica do ouvir ou não ouvir “música mundana” mais como uma questão de ponto de vista do que bíblica. Em outras palavras, não vejo base sólida para se afirmar que escutar canções não evangélicas seja um ato pecaminoso. Tudo bem, até posso concordar com o argumento de que consumir determinadas “pérolas” musicais não convém a um cristão autêntico. Mas isso é o óbvio ululante. Afinal, todo lixo, independente do gênero, é poluente - e em termos de música popular, o Brasil consegue se superar em matéria de porcaria sonora.

Gente, pensemos o seguinte:
1 – A música pode ser encarada como um produto, certo? Não é à toa que um DVD de música evangélica custa uma pequena “fortuna” [tudo “em prol” do reino, é claro].
2 – A música deve ser vista como um bem intelectual e de informação, tal como jornais, revistas, livros, filmes, manifestações folclóricas, etc..., certo?
3 – A música é uma forma de expressão artística, como a poesia, as artes plásticas, o teatro, a dança..., certo?

Ora, se a música é um produto e eu decido limitar o meu consumo musical a um determinado segmento - no caso o evangélico -, seria o mesmo que restringir outras necessidades de consumo a produtos com o mesmo padrão. Ou seja, só posso vestir roupas cristãs, comer alimentos cristãos, assistir a programas cristãos em aparelhos de TV de marca cristã, trafegar em carros de marca cristã e assim por diante. Por essa ótica, a avalanche do legalismo nos condenaria a lermos apenas livros, jornais e revistas evangélicos, a só assistirmos a filmes evangélicos e a nos emocionarmos somente com arte evangélica. Seríamos como extraterrestres alienados em nosso próprio planeta.

Concluo o seguinte: o problema não é a música em si, mas a origem, o intérprete, o propósito e a mensagem contida nela. No mais, a discussão se limita ao campo do ponto de vista pessoal, da hermenêutica, e, claro, da doutrina dessa ou daquela igreja. Fora disso, no fim das contas, é uma questão de bom senso e de (bom)gosto, e gosto não se discute.