quinta-feira, 8 de julho de 2010

O horror em macas


Estou triste. Vou explicar o porquê. Tempos atrás, escrevi aqui mesmo, no Crente Pensante, um post narrando uma visita que fiz, como missionário, a um hospital público de São Luís, o famoso Socorrão. O que vi foi o retrato do horror de uma unidade hospitalar pública municipal em nossa cidade. Pacientes jogados em macas pelos corredores, sem água, com atendimento precário, solitários..., desesperados. Não pensei que fosse presenciar situação pior em matéria de saúde pública. Mas aconteceu.

Aconteceu pelo simples fato de a paciente agora se tratar de uma pessoa muito próxima a mim e à minha esposa. E a corda sempre aperta mais forte quando é do nosso lado. A última semana foi de angústia e provação para nós. Estamos sendo provados não apenas na fé, mas na paciência, na tolerância e na temperança. Se existe algo de bom que se possa extrair dessa situação, confesso que estamos fazendo um esforço enorme para encontrar. Uma coisa boa ao menos eu posso ver: a força e a garra da minha esposa. Não pensei que fosse capaz de amá-la ainda mais do que eu a amo. Mas Deus fez isso acontecer.

Este não é apenas um texto de desabafo, mas de denúncia. A nossa pessoa amada está internada no Hospital Clementino Moura, o Socorrão II, localizado num bairro da periferia de São Luís chamado Cidade Operária. O que se vê é um cenário deprimente. Pacientes amontoados no corredor, onde o mau cheiro é indescritível [foto]. Faltam lençóis, travesseiros, e até mesmo cadeira para os acompanhantes. Não há leitos vagos na UTI, a menos que morra alguém. Presenciei o absurdo de não haver um copo d’água para que uma paciente vítima de aneurisma tomasse um remédio para aliviar a sua dor de cabeça. Fico pensando como o prefeito de nossa cidade, o senhor João Castelo, consegue deitar a cabeça no seu travesseiro de pena de ganso e dormir. Que raios de prioridades tem essa Prefeitura? Acabamos de assistir milhões de reais sendo gastos em festas juninas, enquanto pessoas morrem nos corredores e UTIs dos Socorrões I e II.

Convido o senhor prefeito, senhores governantes, deputados, promotores e secretários a passarem uma noite, ou ao menos algumas horas, no Socorrão II, se tiverem coragem. Que possam despir-se de seus ternos bem talhados [e de suas máscaras] e deixarem por um momento os seus gabinetes devidamente climatizados, para contemplarem o fruto do seu descaso contra aqueles que, possivelmente, depositaram votos ou a confiança em favor de vocês.

E pensar que poderia ser tudo tão diferente, não fossem a ganância, a corrupção e a apatia daqueles que poderiam fazer alguma coisa, mas não fazem, ou fazem muito pouco. Que Deus tenha misericórdia de nossa vida e daqueles pacientes.