sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A TPM "nossa" de cada dia


As mulheres que me desculpem, mas agora vou falar de assunto de homem: TPM. Eis um tema espinhoso – perigoso, melhor dizendo –, não recomendado para marmanjos sensíveis ou de nervos frágeis. Começo defendendo a tese (de minha autoria) de que as maiores vítimas da famigerada Tensão Pré-menstrual não são as mulheres. A despeito da sensação de estar à beira de um ataque de nervos e da cara de poucos amigos – entre outros efeitos que só Deus é capaz de decifrar –, não são elas as mais torturadas pela impiedosa síndrome. Somos nós, homens indefesos, as maiores vítimas da dita-cuja.


Especialistas no assunto atestam que a TPM acomete 75% das mulheres. Mas há quem diga que apenas 35% dos casos são considerados de “alta periculosidade” – para nós, é claro. A propósito, creio que se houver alguma leitora aí vivendo os seus “dias tenebrosos” posso estar correndo risco de linchamento só pela audácia de falar de algo que, organicamente, não me diz respeito.


A TPM é também chamada de Síndrome Disfórmica Pré-menstrual (até o nome assusta), causada por uma disfunção hormonal. Detalhe: dizem que fica mais intensa com o passar dos anos. A fase crítica ocorre entre os 45 e 50 anos, com a proximidade da menopausa. É isso mesmo, irmão, a coisa ainda pode ficar pior para o nosso lado.

Tudo bem, por misericórdia de Deus, os homens não precisam menstruar. Mas, quem sabe por justiça divina, estamos, por outro lado, fadados a sofrer sob a alça de mira das três letrinhas que resumem, precisamente, o estado em que nossas amadas ficam com os nervos à flor da pele. Quem é casado ou tem namorada sabe do que eu estou falando. Ao menor passo em falso e lá vem uma bordoada certeira, ou um choro inexplicável que nos corta o coração, ou mesmo aquele olhar tristonho que te faz sentir-se uma ameba insensível.

Gosto de contrariar a ciência. Por isso, também tenho minhas três letrinhas para definir a tensão que acomete as mulheres no período pré-menstrual: IAF, ou Indecifrável Apaixonante Feminilidade. Confesso: sou uma vítima fascinada por “minha algoz”.

Dia desses, minha mulher estava com TPM. Evidentemente que eu só me dei conta depois de algumas reações típicas da fase. “Você não me com preende”, disparou ela. Existe frase mais desesperadora de se ouvir de alguém que você julga com preender como nin guém? Mas é justamente nesse universo que habita o mistério: a TPM é a certeza de que todos os meses nós, homens, temos o privilégio de descobrir algo novo em nossas amadas. A tentativa de decifrar a “metamorfose” mensal delas, mergulhar mais fundo no seu mundo, é uma aventura perigosa, mas, no fim das contas, prazerosa.

Percebi que a TPM é para as mulheres como o álcool para algumas pessoas: depois de algumas doses, funciona como revelador de angústias e verdades. E é aí que a mesmice do relacionamento perde terreno. É o momento de focarmos nossos esforços na tentativa de decifrar o indecifrável, resignados a ser, para elas, um homem melhor a cada mês. Muitos de nós, claro, desistem no meio do caminho e atribuem a culpa a elas, quando o fracasso é unicamente nosso.

Enfim, viva a TPM, nosso exercício mensal de amor e paciência! Somos as suas maiores vítimas? Sim. Viva o meu lado masoquista.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Que venham as pedras

– Pastor?! Mas com esse cabelo de hippie?!
A frase foi direcionada a mim, embora não compreenda o que meu cabelo espetado (ver foto) tenha a ver com as madeixas, geralmente compridas, dos hippies.
Pensei: – Não tem jeito, de uma forma ou de outra, o título de pastor nos faz alvo de críticas.
– Pois é, apesar do cabelo, sou pastor sim – respondi, educadamente àquela surpresa senhora, que, a meu ver, não tem muita simpatia pelos hippies (ou seria pelos pastores?).

Nunca em meus tempos de juventude sonhei em ser pastor. Não quis, não planejei, não pedi, ou mesmo nutri forte admiração por algum representante da espécie. Mas, evidentemente, essa história mudou. Um belo dia, flagrei-me em oração, admitindo diante de Deus meu desejo de pastorear, de pregar, de mentoriar pessoas, de cuidar de “gentes”, de servir. Ri de mim mesmo; lembrei-me do velho homem, sempre crítico e severo em relação a tudo que dissesse respeito a Deus. Como o mundo dá voltas! E tolos são aqueles que ficam inertes enquanto o mundo gira.

Não por mim, mas por vontade soberana do Senhor – assim eu creio – aconteceu. Tornei-me pastor em uma época em que ser um deles é amargar toda sorte de comentário malicioso. “Pastor é tudo picareta”; “Só sabe tirar dinheiro dos bestas”; “Vivem fazendo lavagem cerebral nas pessoas”..., falam alguns, mesmo sem saber por quê. Para mostrar intelectualismo, talvez.

E eu com isso? Ora, eu aprendi com Jesus que amar a quem nos ama é fácil, mas é preciso amar àqueles que nos desejam mal. Aprendi com Cristo também que o evangelho deve ser pregado a todos, sem acepção de pessoas. Mas, como pregar a quem te ridiculariza, te falta com respeito, te ignora, faz chacota de ti pelas costas? Fora da igreja (lá é fácil receber cumprimentos e o amor dos irmãos) é exatamente o que eu vivo todos os dias, seja no meu trabalho secular ou em outros cantos.

Desânimo? Às vezes bate, sim. Mas não dura muito, porque lembro Daquele que não pensou duas vezes em ser achincalhado, chicoteado, humilhado, morto..., por minha causa. Lembro de quem eu era e de quem eu sou, por causa Dele. Minha alma sorri. Oro, peço sabedoria e oportunidades de pregar àqueles que não querem ouvir. Consolo-me ao lembrar que um dia eu também não o quis, e também chamei pastor de ladrão. Hoje falo de Cristo com a convicção de quem conhece os dois lados da moeda. Quisera todos se permitissem conhecer antes de emitir opiniões. Ah, se eu tivesse falado menos e conhecido mais. Não teria perdido tanto tempo.

Pois é, apesar das pedras e dos rótulos, ser pastor é uma alegria e uma honra. Que venham as pedras e caiam os rótulos. Vamos em frente, marchando para o alvo.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Pela diferença de gêneros

“O que tenho feito é investigar essa parte de gênero. O que tenho descoberto é que isso é muito arraigado, essa cultura binária, essa divisão do mundo entre mulheres e homens é um dogma muito forte. Não se rompe isso facilmente. Desafiar esses códigos perturba todo o ambiente ao redor de você”.

A frase é do (excelente) cartunista Laerte, companheiro de Angeli e Glauco no antológico “Los Três Amigos” e criador do sarcástico “Piratas do Tietê”. Traços à parte, achei a declaração do artista – que decidiu vestir-se como mulher no dia-a-dia - um típico exemplo da realidade mundana que nos rodeia. O mundo-cão que prega a libertinagem no real sentido da palavra (desregramento, licenciosidade). Sinceramente, não me estranhou o fato de ele ter decidido se travestir de mulher (o terno cult é “cross-dressing”). O que me chamou a atenção na sua entrevista (concedida à Folha de S. Paulo) foi sua convicção ao considerar “a divisão do mundo entre mulheres e homens” como “um dogma muito forte”. Ora, faça-me o favor! Que pensamento intelectualóide é esse que busca ferir a lógica da realidade, do fato, enfim, da própria lógica?!

Será que Laerte não tem se visto no espelho ultimamente? No mundo existem homens e mulheres (aleluia!!!). Na dúvida, basta dar uma olhada dentro das próprias calças. Homens e mulheres são diferentes (aleluia!!!) e se ajustam perfeitamente nas suas diferenças. Não se trata de dogma ou de um sistema binário arraigado na mente das pessoas, como ele tenta qualificar, é fato. Aliás, que maravilha de fato!

Minha preocupação é pensar que declarações de artistas como ele, dono de uma legião de admiradores - entre os quais, muitos jovens -, comece a infiltrar em intelectos menos favorecidos a idéia de que se vestir como mulher é uma atitude “super-cabeça”, “super-natural”, afinal, “regras são feitas para ser quebradas, liberou geral, viva o samba-lê-lê e o resto é caretice do sistema”.

Veja esta outra declaração do cara: “O problema é a vida submetida a essa ditadura dos gêneros, a esses tabus que não podem ser quebrados. É você sentir que sua liberdade está sendo tolhida, que as possibilidades infinitas que você tem de expressão na vida, ao sair, ao se vestir, ao se manifestar, ao tratar as pessoas, seu modo, seu gestual, sua fala, tudo isso é cerceado e limitado por códigos muito fortes e muito restritos. Isso é uma coisa que me incomoda”.

A minha dúvida é: ele está incomodado com os homens que agem e gostam de agir como homem e com as mulheres que agem e gostam de agir como mulher, ou com o fato de ele se sentir reprimido por não poder se vestir de mulher sem causar estranheza nos outros? Se for a primeira opção, gostaria de registrar que minha natureza - e de todos que nascem com um órgão sexual masculino - é masculina e que agir como tal está arraigado (aí sim) em uma origem orgânica e, pode-se dizer, em um histórico social. Fora disso a coisa permeia o campo das escolhas de cada um. Logo, é inevitável discordar radicalmente do pensamento do genial cartunista de que “vivemos numa ditadura dos gêneros”. Em confronto com a visão bizarra de ver um homem vestido de mulher, não há como considerar bela a visão de uma mulher vestida decentemente como tal. Alguém aí há de concordar comigo.

Agora, se o problema for o fato de ele se sentir reprimido por não poder se expressar como gostaria de fazê-lo, vê-se que esse problema já está resolvido. Nesse caso, volto a dizer, não é o fato de o cartunista ter decidido se travestir, “como forma de expressão”, que me preocupa, mas a ameaça de, num futuro próximo, eu vir a ter meus direitos de hétero cerceados e minha boca amordaçada em nome do direito dos outros de defender que homens e mulheres “são iguais” e que o resto não passa de “um dogma”, “uma ditadura dos gêneros”.

É..., nada mais me espanta!