quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Evangelho segundo Maquiavel


Uma pergunta para refletir: Você mentiria para obter algum tipo de benefício para a sua igreja?
Que tal essa? Você assinaria um cheque sem fundo para “pagar” cestas básicas, para alimentar famílias carentes?
Ou essa: Você concordaria que sua igreja recebesse, conscientemente, uma doação de origem criminosa (dinheiro do tráfico de drogas, por exemplo)?

Se ao menos em uma das perguntas acima a sua resposta foi “sim”, você pode ser considerado um potencial discípulo de Nicolau Maquiavel, autor da frase “Os fins justificam os meios”. O problema é que, como cristãos (se for esse o seu caso), nosso papel é ser discípulo de Cristo e não do italiano renascentista autor de “O Príncipe”.

Para alguns fãs de Maquiavel, sua célebre frase quase sempre é mal interpretada. O que ele teria quisto dizer foi que “os fins determinam os meios” e não que uma atitude pode ser justificável dependendo do seu objetivo. Ou seja, é de acordo com nossas metas que devemos traçar os nossos planos.

Consideremos assim então: as minhas metas (fins) devem determinar os meus planos (meios). Só que para nós, reles humanos, o perigo é quando os planos recebem a influência de um inimigo íntimo chamado “a carne”. Isso porque a (nossa) carne costuma ser egoísta, vaidosa, egocêntrica, enganosa, pecaminosa e mentirosa. É ela que induz a pessoa a assinar um cheque sem fundo, a mentir para tirar vantagem, a camuflar falhas quando lhe convém e, via de regra, a compactuar com o pecado para tirar proveito. Em suma, se a carne estiver à frente, não importa os fins ou os meios, o resultado é um só: pecado.

Assim sendo, não há outra saída para o cristão maquiavélico (refiro-me àqueles que agem segundo a carne, ainda que pensando estar fazendo o bem) a não ser recorrer ao arrependimento, a fim de preservar um relacionamento saudável com Deus e com o próximo. Tal responsabilidade recai seriamente sobre as igrejas, cujo papel é propagar o Evangelho genuíno e ser imitadora de Cristo em amor e atitudes.

A garantia de permanência de fiéis com dízimos avantajados; o medo de expor o nome da congregação por erros cometidos por líderes ou membros; a possibilidade de receber doações generosas; ou mesmo o afã de multiplicar o número de ovelhas... não podem, jamais, justificar meios que confrontem os preceitos bíblicos. Se na política pregada por Maquiavel fins justificam meios, na política da santidade objetivos não justificam atitudes que desagradam a Deus.

Sábio é o líder, aliás, todo cristão que tiver isso em mente.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

“…and the Oscar goes to...”

O teatro anda em alta nas igrejas. Não, não estou falando dos muitos grupos dedicados às artes cênicas que, com muito valor e criatividade, fazem da interpretação teatral um recurso interessante para falar de Cristo. Refiro-me, com pesar, ao enorme rebanho de atores que povoam naves e púlpitos de nossas igrejas. Tratando-se de seres humanos (ô raça sínica essa a nossa!), ouso afirmar que não existe exceção: em toda igreja institucionalizada não faltam mambembes travestidos de cristãos.

Sabe o que é pior? Dificilmente algum de nós escapa ao risco de atuar, ainda que provisoriamente (os mais inteligentes pulam fora rapidinho), nesse grupo de artistas do Evangelho, pregadores do engano, testemunhas de araque. Não tenho pudores para falar sobre isso, porque considero saudável o hábito da auto-análise, da auto-crítica, a fim de não tropeçarmos na própria soberba ou na idéia equivocada de que estamos acima do bem e do mal.

Há muitas razões para estarmos propícios a usar máscaras. Todavia, vou ater-me a dois substantivos comuns no dia-a-dia de todo ser humano e responsáveis por grande parte dos jogos de cena que se vê por aí. São eles a mentira e a vaidade. Isso porque ambos, a certo passo da vida, acabam se tornando hábito e passam despercebidos (a olhos humanos).

Mentimos por esporte, sem querer, sem-querer-querendo e, claro, querendo mesmo. Sabe quando aquele flanelinha com jeito de poucos amigos vem pedir dinheiro, cheio de cachaça no cérebro, e a gente afirma, sem pestanejar, “estou sem dinheiro hoje”? Geralmente o dinheiro há, mas, por que não mentir para se sair de uma situação incômoda? O exemplo é simplório, mas serve para ilustrar o fato de como é fácil mentir diante de situações que nos constrange. Por que não mentir? Uma mentirinha não faz mal a ninguém. Deus há de perdoar. Afinal, “os fins justificam os meios” (ô frasezinha malévola! - outro dia escreverei sobre esse negócio de fins justificando os meios. Aguardem). Mentir será sempre a atitude menos inteligente diante de Deus.

Já a vaidade... ah!, a vaidade... “Meu pecado preferido”, declarou, com sorriso irônico, o personagem de Al Pacino no filme Advogado do Diabo. Ele interpreta Satanás no thriller e se diverte manipulando o vaidoso personagem de Keanu Reeves. Não é à toa que a palavra vaidade é usada tantas vezes na Bíblia, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Salomão, no ápice de sua maturidade, inicia Eclesiastes falando desse pecado perigoso, que sutilmente nos afasta da presença do Senhor e nos enforca em nós mesmos.

A vaidade é a necessidade que o homem tem de chamar atenção para si. Ela é um dos principais empecilhos entre o ser humano e a confissão de pecados. A vaidade nos impede de admitir erros. Confessar pecados - mesmo sabendo ser isso fundamental para o conserto -, coloca em xeque o conceito que os outros têm a nosso respeito. Muitos de nós preferem encobrir o pecado a ter sua máscara lançada fora. Acontece que Deus tem visão de raio-X (1 Samuel 16:7). Ele vê através da máscara. E “não se deixa escarnecer, porque tudo que o homem semear ele também ceifará. O que semear na carne... (Gálatas 6:7).

E assim o teatro tem seguido firme no ceio das congregações. Mas, a má notícia para os atores do Evangelho é que sempre haverá a ação consoladora e poderosa do Espírito Santo. E Ele é especialista em desmascarar falsos profetas e falsos discípulos. O dom do discernimento de espíritos é real na vida daqueles que O buscam. E nada há encoberto que não haja de revelar-se (Mateus 10:26). No popular: um dia a casa cai.

Enquanto isso não acontece, os crentes Cazuza (inventei essa agora) continuam vivendo a sua mentira como quem diz “faz parte do meu show”. Na platéia, o Diabo sorri, aplaude e pede bis. Enquanto o Espírito Santo chora.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

É Natal, que beleza!

É Natal! Tempo de amar ao próximo, exercitar a solidariedade e esbanjar momentos de confraternização. Na sexta-feira última, entretanto, uma cena contrastou-se com esse espírito solidário que move o inconsciente coletivo. No flagrante do repórter fotográfico Diego Chaves, do jornal O Estado do Maranhão, um homem supostamente embriagado, estirado no meio da rua, não foi obstáculo para o cortejo natalino que passava pela Rua Grande, a mais movimentada do comércio de São Luís. Guiados pelo casal José e Maria, que carregava um boneco simbolizando o menino Jesus, dezenas de outros personagens devidamente caracterizados, entre pastores, reis magos, anjos e músicos, seguiam em animada batucada, celebrando o clima natalício. Sem perder o passo, nem o compasso, os artistas desviavam tranquilamente do homem estatelado no chão. Talvez a preocupação fosse a de não perturbar o “cochilo” do indivíduo, dentro do mais verdadeiro espírito solidário da época. Afinal, é Natal, ho, ho, ho.



quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A culpa é nossa


Tempos atrás, ser crente - melhor dizendo, protestante -, era coisa de gente esquisita, religiosa ao extremo, ou, na melhor hipótese, um tipo qualquer de carola, todavia, na maioria dos casos, pessoa séria e, quase sempre, confiável. Hoje, ser crente - melhor dizendo, evangélico, pior dizendo, gospel -, é para, os ímpios, sinônimo de toda sorte de adjetivo pejorativo, do irônico ao agressivo. E a culpa é de quem? Nossa, é claro.

Não pretendo aqui condenar gente sem noção, do tipo que curte se divertir à custa da fé dos outros e que, geralmente, fala sem conhecimento de causa, que nunca leu a Bíblia (se leu, não entendeu bulhufas) e apenas acha intelectualmente impressionável tirar onda dos cristãos. O propósito aqui, para variar, é centrar fogo no comportamento de nós, evangélicos, cuja vergonha na cara tem se tornado artigo em escassez.

Por exemplo: às vezes acho perda de tempo esse negócio de crente famoso ir a programa de televisão secular, sob a justificativa (ingênua, a meu ver) de evangelizar os descrentes. “A palavra nunca volta vazia”, costuma-se dizer, como que procurando desculpar-se pelo fato de estar sentado à roda de escarnecedores. Resultado: salvo honrosas exceções, o irmão famoso acaba alvo de chacota na boca dos ímpios.

Um caso recente foi o da cantora Sara Sheeva, entrevistada no programa Manhã Maior, da Rede TV. A pastora e ex-cantora do grupo SNZ revelou que sua conversão se deu após uma experiência sobrenatural: “Eu vi o mal. Eu vi dentro de uma pessoa" - afirmou. "Uma pessoa incorporou um espírito no meio da rua, na minha frente, e os meus olhos se abriram, espiritualmente falando", completou. Ela disse ainda estar sem sexo há 10 anos e sem beijar na boca há nove.

A turma do facebook deitou e rolou. O depoimento da pastora foi motivo de piada. E sobrou para todos os evangélicos. Fomos chamados de falsos puritanos, julgadores da vida alheia e claro, desequilibrados que precisam de ajuda psiquiátrica. Pergunto: será mesmo que o Reino de Deus precisa desse tipo de participação televisiva? O programa, claro, ganha em audiência. Mas, e a Palavra, foi mesmo pregada? Os descrentes foram mesmo impactados pelo testemunho de mudança? Ou a coisa toda serviu apenas para colocar o Evangelho como alvo de zombaria?

Nem se precisa dizer que há lugar, hora e maneira de se dizer as coisas, a fim de se atingir o objetivo desejado. Falar de coisas espirituais para ouvintes leigos no assunto, ateus, agnósticos ou simplesmente vazios do Espírito, ou mesmo arrogantes intelectualóides, é quase sempre chover no molhado.

Por outro lado, dia desses assisti a uma entrevista de Victor Belfor e Joana Prado ao apresentador Luciano Huck e gostei da postura dos dois. Sem apelar ao evangeliquês, disseram que a conversão foi a melhor coisa que aconteceu na vida deles e que a mudança se tornou evidente. O próprio Huck admitiu: “Mudou para melhor”, referindo-se à Joana, que ficou famosa como a Feiticeira em programa apresentado por ele. É assim que se faz. E quem quiser conhecer o Jesus que os transformou que venha. Ele está sempre de braços abertos.

A verdade é que são as atitudes e o caráter que mostram se uma pessoa é cristã ou não. Ir à igreja, pregar, cantar louvores ou dar entrevistas na televisão, gravar CD... nada disso faz de alguém um verdadeiro discípulo de Jesus. Aliás, ator é o que não falta no meio evangélico. Tem gente que consegue até separar bem as coisas: “Na igreja sou cristão, fora dela faço o jogo do mundo”. Coitado de quem pensa assim. Cristo nos ensina a ser discípulos onde quer que estejamos. É justamente fora da igreja onde eu mais preciso dar testemunho de quem eu sou Nele.

Não precisamos agir como juízes do mundo, nem tentar parecer puritanos ou, muitas vezes, hipócritas diante do pecado alheio, para mostrar que somos evangélicos. Temos que ser verdadeiros, com nossos erros e acertos, arrependendo-nos diante do pecado, perdoado e estendendo a mão a quem precisa se levantar. Pregar o Evangelho é tarefa de todos, aproveitando cada oportunidade. Até mesmo, com a devida prudência, em programas de televisão. Mas, um pouco de cabimento não faz mal a ninguém. Lembram da Baby do Brasil mostrando ao Jô Soares como se fala em línguas estranhas? Ninguém merece! O Jô (que de modéstia intelectual não tem nada) tirou sarro do início ao fim da entrevista.

É bom que fique claro: não me importo com os comentários vazios e escarnecedores dos descrentes. O que me incomoda é a nossa falta de noção quando esquecemos de buscar em Cristo a forma mais inteligente de pregar o Evangelho. O que, aliás, às vezes nem precisa de palavras.