Sujeito a levar bordoadas de alguns leitores, aí vai um pensamento meu para reflexão:
“Para que haja uma conversão plena, é preciso que esta se dê não apenas no âmbito espiritual, mas também no intelectual”.
Amparo esse pensamento na forma como Jesus lidava com seus discípulos. Embora tivesse a evidente preocupação de orientar os apóstolos a evoluírem na fé, Ele claramente os encorajava a crescerem também no intelecto. Não são poucas as passagens na Bíblia em que vemos o Senhor provocando seus seguidores a usarem da “cuca”. Com sua maneira peculiar de ensinar, instigava-os a questionar e a buscar o conhecimento, principalmente nas Escrituras.
Em Atos 4:13, por exemplo, vemos um Sinédrio maravilhado com a forma de falar de Pedro e João, outrora simples e iletrados pescadores, mas à ocasião eloqüentes e firmes defensores de sua fé em Cristo. Considera-se, obviamente, o fato de os apóstolos serem homens cheios do Espírito Santo, o que lhes garantia a convicção e o poder espiritual necessários à obra a qual foram designados. Entretanto, é também notória a maturação intelectual daqueles discípulos, cujas palavras evidenciaram, diante dos líderes religiosos, o fato de que eles haviam aprendido a lição do Mestre.
Não é à-toa que a Palavra nos ensina a crescer não apenas na graça, mas também no conhecimento e, assim, permanecermos firmes na fé e no Evangelho do Senhor (2 Pedro 3:18). Amiúde, vejo pessoas rendendo-se às boas-novas de Jesus e, com isso, dando passos em direção a uma experiência de fé. Todavia, muitos passam a trilhar esse caminho de forma sinuosa, com o intelecto adormecido - seja pela falta de um discipulado sistemático ou por força de doutrinas que alimentam, no cristão, uma fé sensorial, baseada em emoções. Assim, é comum observamos crentes que ainda pensam como descrentes, cambaleantes em suas convicções, inseguros de raciocínio lógico sobre a própria crença. Resultado disso? Faltam-lhes argumentos que os tornem, na prática, defensoras autênticas de Cristo e de seus ensinamentos, além de carecerem de segurança para evangelizar outras pessoas, pois seu conhecimento acaba tão superficial quanto a sua fé.
Para concluir, recorro à intelectualidade espiritual de Paulo. Quando o apóstolo alerta seus discípulos, em 1 Coríntios 13:11, sobre a diferença de atitudes entre um menino e um homem, interpreto que uma fé legitimamente madura precisa deixar de lado as meninices, as fábulas, as invencionices, para estar firmada no co¬nhe¬cimento e no posiciona¬mento crítico-reflexivo sobre as verdades do Evangelho. De outro modo, corremos o risco de nos tornar homens de coração dobre, levados por qualquer vento de doutrina (Tiago 1:6-8), muitas vezes afun¬dados na superficialidade (perdoem-se o contra-senso poético) de um legalismo sem sentido, que nos priva da razão libertária de Cristo.
(E os que, baseados nessa reflexão, pensarem que eu não acredito em milagre, na manifestação sobrenatural do Espírito Santo e no poder da fé é porque não entenderam direito o que eu quis dizer. Fazer o quê.)